O fantástico de escrever nesse espaço é a interatividade. Recebi uma sugestão espetacular e aproveito para esclarecer uma coisa que falei no vídeo e que não ficou muito clara. Aliás, uma coisa que não é óbvia.

A resposta a esta pergunta passa por dois fatores. Vamos entender cada um partindo de uma situação do nosso dia-a-dia.

Não sei se as pessoas reparam, mas olhando no prato na hora do almoço, o arroz, o feijão, a carne (ou frango), o óleo de soja, etc. têm o preço em dólares. Na realidade, quando você vai ao mercado, esse preço é expresso em reais, mas ele reflete o valor internacional do produto.

Você pode perguntar: como assim? Eles não são produzidos aqui no Brasil? A resposta é sim, mas há um conceito em economia que é o de bem comercializável. Um bem é considerado assim quando pode ser vendido dentro ou fora do país.

Por conta disso, imagine um produtor de arroz. Vamos supor que o preço internacional do arroz suba muito por conta de algum problema na China, por exemplo. O produtor brasileiro poderá, nesse momento, optar por vender o arroz aqui ou lá. Desse modo, o preço do produto aqui tem que ser equivalente ao preço internacional, menos o frete para mandar o produto para fora, tudo isso convertido pelo valor do dólar (ou euro). Para o produtor vender aqui, ele tem que ganhar o mesmo (ou mais) que ganharia se exportasse o arroz.

Onde a cotação do dólar influi? Vamos supor que um quilo de arroz no mercado internacional esteja sendo vendido a um dólar. Se o preço do dólar (a quantidade de reais necessários para comprar um dólar) subir muito no Brasil, quando o produtor converter um dólar, que é o preço do arroz, para reais, o quilo do produto no País ficará mais caro. Esta foi a primeira razão de que falei no início.

A segunda razão é o custo de produção. Vamos pensar no mesmo prato de comida e imaginarmos a alface. Não é de se esperar que o produtor vá exportar alface para a Europa (ainda que um produtor do Paraná possa vender para o Paraguai). Logo, isso não é um bem comercializável do ponto de vista ao qual nos referimos anteriormente, mas o adubo que utilizamos na produção agrícola é importado. Se a cotação do dólar subir, pagaremos mais reais para comprar a mesma quantidade de produtos. A gasolina ou diesel utilizados no transporte e nas máquinas agrícolas é comercializável e, conforme já falado, também sofrerão reajuste de preços com a subida da cotação.

Como a inflação é o aumento de preços, a subida do dólar altera os preços internos além daqueles que importamos.

O curioso é que ganhamos em reais e pagamos nossas despesas metaforicamente em dólares. Um dólar barato (adquirido com poucos reais) é um bom amigo da baixa inflação.