Se me “acusaram” de haver passado por cima do assunto na postagem anterior, então aí vai:
O estudo sobre mesada e o uso de drogas a que me referi na postagem anterior é o seguinte: “Even For Teenagers, Money Does Not Grow on Trees: Teenage Substance Use and Budget Constraints”. Em uma tradução direta, poderíamos denomina-lo: “Mesmo para adolescentes, dinheiro não dá em árvores: Uso de drogas por adolescentes e restrições orçamentárias”.
O trabalho acima é de autoria de Sara Markowitz (Universidade de Rutgers) e John A. Tauras (Universidade de Illionis em Chicago). Ambos economistas.
A idéia do artigo, como diz o título, é avaliar como os adolescentes, sujeitos a uma restrição orçamentária (uma fonte fixa de renda por mês), alteram o consumo de cigarros, álcool e maconha, quando os preços dos outros itens de sua cesta de consumo são alterados.
Obviamente se a renda que era fixa aumentar haverá a distribuição desta renda extra no consumo de maneira não necessariamente proporcional.
As conclusões do trabalho, no que se refere ao aumento da renda, apontam duas diferentes respostas à forma como o dinheiro é obtido: se através de aumento de renda de salário (obtida com o trabalho) ou aumento de mesada. Segundo os pesquisadores, cada US$100 anuais de renda salarial adicionais implicam em um aumento na probabilidade de consumo de cigarro em 0,11%, de consumo de álcool em 0,17% e a de uso de maconha em 0,06%. Isto quer dizer que mesmo trabalhando, o consumo dessas substâncias aumenta com o ganho.
Por outro lado, quando o aumento é de mesada, o que acontece é o seguinte: probabilidade de consumo de cigarro em 0,62%, de consumo de álcool em 0,98% e a de uso de maconha em 0,45%. Isto quer dizer que mesmo trabalhando, o consumo dessas substâncias aumenta com o ganho.
O estudo aponta que, mantida a renda do adolescente constante, a renda familiar é inversamente proporcional à freqüência com que os filhos fumam, ou seja, quanto menor, maior é a utilização do cigarro, o que, segundo eles, demonstra a falta de uma variável que controle o estudo no que se refere ao ambiente familiar.
Resumido o estudo revela que a probabilidade de uso das substâncias referidas (cigarro, álcool e maconha) aumenta mais com a elevação da mesada do que aumentaria se a renda extra fosse resultado do trabalho.
Acho que, de uma forma geral, temos muito medo que nossos filhos extrapolem os limites e, inclusive, que sofram conseqüências dessa extrapolação (sua ou de outro adolescente). Falo de uma forma geral, porque há também aqueles pais que nada temem, que são minoria, assim como aqueles pais que não estão nem aí para o assunto.
Partindo dessa premissa considero que o que pudermos fazer para minorar o consumo dessas substâncias por parte dos adolescentes deve ser feito. No âmbito desse blog, o que podemos dizer é que a mesada deve ser controlada e substituída, sempre que possível, por “remuneração” por serviço prestado.