Respondo a um comentário e uma pergunta instigante do Zival:
“BETO VEIGA
A redução do grau de risco do Brasil para 200 pontos, baixa o custo de captação, mas como temos a maior taxa de juros do mundo, continuaremos atraindo especuladores internacionais e nacionais, que provocarão uma enxurrada de dólares, obrigando o BACEN a enxugar o mercado, para manter a paridade de R$ 1,70 : US$ 1,00 – redundando no aumento da dívida interna, que está estratosférica e a custos proibitivos, não há superávit primário que consiga pagar os juros, obrigando o BACEN vir a mercado comprar dinheiro, via venda de títulos do tesouro, o que aumentará, ainda mais, a dívida interna, os exportadores serão penalizados, e o reflexo será perdas financeiras, pelas margens negativas nas exportações, fica a questão, como o governo resolverá o ‘imbróglio’?
Zilval”
Caro Zival,
Vamos tentar “abrir” um pouco esta sua mensagem para podermos discuti-la melhor.
Você afirma que a redução do risco, dado que temos as taxas de juros mais altas do mundo, irá fazer com que haja uma invasão de capital estrangeiro.
Aqui vou eu: Sim, a redução do risco irá trazer capital estrangeiro, mas este capital será tanto menor quanto maior for a expectativa de inflação e eu já comento isso.
Aí você coloca um outro componente, que é o fato de termos a maior taxa de juros do mundo.
Aqui vou eu: Com esta “enxurrada” de capital estrangeiro, não apenas o custo de captação, como também as taxas de juros caem naturalmente. O fato é que o Banco Central vai ter muito trabalho se quiser manter a taxa de juros alta, porque os investidores toparão receber menos. Isso já está acontecendo lá fora. Os títulos da dívida externa brasileira já estão pagando (automaticamente) menos juros aos investidores (veja a postagem sobre renda fixa).
Você continua dizendo que o Bacen vai querer manter a paridade do dólar.
Eu respondo: só fazendo mágica. Mas há uma solução de mercado para o problema. Na realidade, não é uma solução de mercado é um problema de mercado, porque o que vai acontecer na seqüência é o seguinte:
(1) Os dólares comprarão menos reais
(2) os produtos brasileiros vão ficar mais caros em dólar, e os estrangeiros mais baratos em real
(3) e o volume de exportações tenderá a cair, e o de importações a subir
(4) a balança comercial (diferença entre o que compramos e o que vendemos), como já estamos vendo, começará a ficar negativa
(5) o valor do real começará a cair porque os importadores começarão a procurar dólares para comprar e, como os exportadores não terão mais tantos dólares, o preço da moeda brasileira cairá
(6) as coisas tenderão a se estabilizar
Os problemas dessa conjectura simplificadíssima são os seguintes: isso toma tempo, os exportadores certamente vão perder com as mudanças, quando a coisa começar a reverter haverá aumento na inflação, porque se o dólar subir, os preços dos nossos produtos internamente sobem.
Um outro ponto que comentei anteriormente é a questão da inflação. Para recebermos uma enxurrada de dólares, os aplicadores querem que o valor do dólar esteja alto quando eles chegarem (poucos dólares compram muitos reais) e baixo quando eles saírem (poucos reais compram muitos dólares), como eles vivem com o dólar, querem levar muitos para casa. Se houver inflação, a expectativa é a de que o dólar vá subir. Dessa maneira, se receber uma enxurrada de dinheiro externo para financiar o consumo interno, há maiores expectativas de que a inflação suba e que os investidores, quando forem retirar o seu dinheiro, comprem menos dólares com a mesma quantidade de reais. Por isso, este é outro freio na expectativa de vinda massiva de dinheiro externo.
Para tratar este imbróglio, acho que há algumas medidas, mas difíceis de serem implementadas, por razões políticas. Talvez a primeira delas seja reduzir os gastos do Governo, de modo a arrefecer a demanda interna. Dar uma apertada no crédito, como fez o Malan, também poderia ajudar um pouco nesse processo.