Embora o mundo esteja “se acabando” com a possível recessão dos Estados Unidos, vamos aqui, no rasteiro, analisar uma questão que já venho discutindo faz tempo.

No processo de divulgação do livro, dei uma entrevista em uma rádio e fui perguntado se essa coisa de dizer que o pobre deveria juntar o dinheiro antes e comprar depois era conversa da elite.

Entendi que elite é a classe mais abastada da população e respondi que, se for para beneficiar a “elite”, melhor será que o pobre compre financiado, porque dará lucro não apenas ao vendedor da mercadoria mas também à instituição que fizer o empréstimo.

Como ninguém é de ferro, quem vende a mercadoria recebe também uma comissãozinha do financiador.

Pois bem, o que nós estamos discutindo é uma questão de esperar. Se o pobre pode pagar uma prestação, ele pode depositar este valor todo mês e, ao final do período, adquirir o bem. Não se trata de querer privar essa classe da população de viver uma condição de vida melhor.

Diga-se de passagem que duas coisas muito boas podem acontecer se o cidadão poupar antecipadamente: a primeira é que, vendo aquele dinheirinho suado que conseguiu juntar, o indivíduo tem a chance de refletir melhor e desistir de comprar algo que seja inútil e que ele iria adquirir por impulso e por um empurrãozinho do vendedor. A segunda coisa depende do tipo de bem que ele iria adquirir, mas é o fato de que o preço do produto pode estar mais baixo, se for um bem de tecnologia.

Vamos discutir agora uma terceira coisa tão importante quanto óbvia: a transferência de renda em função da ansiedade.

Numa outra conversa com um amigo responsável pela área de marketing de uma grande indústria de bens de consumo e alimentos do Nordeste, ele me falava das pesquisas que realiza a respeito da alocação da renda dos pobres. Esses estudos são feitos tendo em conta que um dos produtos de sua linha de alimentos faz parte do cardápio de milhões de nordestinos.

A história é que se trata da economia do um real. Isso mesmo, onde um único real faz diferença. Com este um real que sobra, é possível adquirir um novo pacote do item mencionado.

Pois bem, vamos para um anúncio de uma rede de eletrodomésticos que saiu na TV: máquina de lavar por R$ 699 (arredondei para R$ 700) ou 12 de R$ 82,90. A taxa de juros desse empréstimo é de 5,87%. Mas isso significa pouco, porque não são muitos brasileiros que sabem o que isso significa. Vamos para a poupança. Se ela poupasse, nos próximos 8 meses esse valor (R$ 82,90), teria juntado, ao final do período, R$ 674,90.

O resultado é que seria uma economia de 4 meses de prestações, menos os R$ 25,00 para completar os R$ 700 (R$ 700,00 – R$ 674,90), isto é, R$ 306,00 ( 4 x R$ 82,90 – R$ 25,00).

Veja bem: R$ 306,00 para compara hoje o que poderia ser comprado daqui a oito meses!!! Para algumas pessoas isso pode representar nada, mas para outras pode significar quase um mês de trabalho para saciar essa ansiedade.

Mas depois a gente continua…

2 Comentários

  1. Há pessoas do meu convívio que têm renda familiar bruta de cerca de 15 mil reais e compram tudo o que veêm pela frente e não têm reservas! E eles cursaram ótimas faculdades, ou seja não é falta de instrução. Por outro lado, vi uma matéria no Globo Repórter sobre pessoas com renda de abaixo de mil reais mensais que poupavam dinheiro todo o mês.

    Mas sei que não podemos ver ser casos como regra, pois podem estar nas caudas da distribuição. O que os dados agregados dizem? Os pobres são perdulários e os ricos são sovinas?

    Quem é pobre? Rico é quem tem renda alta ou grande patrimônio financeiro?

  2. Bom, Urano, quando eu falei em educação, estou falando de educação financeira.
    Quem ganha 15mil e gasta tudo que tem, se teve educação financeira, assemelha-se ao caso do cidadão que foi à escola e joga lixo no chão. A educação foi dada mas não mudou o comportamento. Essa é uma longa discussão.
    Eu assisti àquela reportagem do Globo Reporter e até mesmo revi junto com meus filhos e com a moça que trabalhava na minha casa.
    O ponto todo da postagem é: não seria importante conscientizar “a maioria” das pessoas que têm renda baixa?
    Será que eles não poderiam ser mais úteis à economia se dispusessem de mais recursos?
    Quanto à definição de pobre, dado que não estou fazendo ciência aqui, são aqueles que têm a renda baixa. Uma renda familiar per capta de R$ 700 é baixa para os fins dessa postagem.

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