Os produtos de previdência denominados “Ciclo de Vida” são estruturados com o objetivo de ajustar a carteira do fundo em que os recursos são aplicados, em função do tempo que falta para a aposentadoria.
Este assunto tem levantado muita discussão no mercado norte-americano, em que tais produtos foram bastante difundidos.
Naquele país, conforme já mencionei em postagens anteriores, as contas de investimento classificadas como 401(k), embora opcionais, são amplamente utilizados pelos trabalhadores. Todavia, em função da diminuição da cobertura da previdência oficial, o governo receou que um grande número de pessoas ficasse com poucos recursos no momento de sua aposentadoria e autorizou os empregadores a cadastrar automaticamente os funcionários nestas contas (o descadastramento pode ser requerido pelo funcionário a qualquer tempo).
Posteriormente, o Congresso requereu que o plano para este cadastro automático fosse na modalidade “Ciclo de Vida”. A medida criou um imenso mercado para os produtos com tais características, mas demandou a adoção de lei isentando o empregador de qualquer responsabilidade por possíveis prejuízos dos trabalhadores.
Tudo parecia ir muito bem até o surgimento da crise financeira de 2008, quando as ações tiveram perdas significativas. Neste momento, verificaram que, em alguns fundos, as alocações dos recursos dos investidores haviam sido equivocadas, isto é, mantinham uma elevada participação em ações para quem estava próximo a se aposentar. Resultado: pessoas que planejavam parar de trabalhar a partir de 2010, não terão como transformar o sonho em realidade.
Um artigo de 25 de junho de 2009, do New York Times, informava que a composição da carteira dos fundos com previsão de saque para início em 2010 apresentavam de 21% a 79% da carteira em ações.
Com esta configuração, as pessoas que estavam com forte posição nos fundos mais “carregados” em ações sofreram perdas elevadas.
Da mesma forma, não há nenhum problema na dispersão de percentuais em mercados de ações, desde que considerado o perfil do investidor. A oferta de um amplo leque de produtos para um mesmo período de saque é até salutar. Se o cliente já possui uma parcela considerável de seus recursos em ativos conservadores, pode optar por um produto de previdência “agressivo”. Inclusive, pode começar a realizar os saques para a complementação da renda exatamente a partir deste fundo (certamente, não em um momento em que as bolsas estejam em baixa).
Noutro sentido, aquele que aplica fração substantiva da renda em ativos de risco pode escolher um fundo com menor percentual de ações.
É necessário que fique claro para o consumidor o que ele está levando para casa. Problema: O investidor, na grande parte das vezes, não é capaz de perceber.
Após o apoio do Congresso norte-americano, o que se viu foi uma reversão da simpatia pelo produto para uma preocupação com o consumidor. Segundo a matéria, tramitam uma série de leis objetivando regular as taxas cobradas, a divulgação destas taxas, a publicidade e estratégias de marketing, além de pretender que as empresas prestem melhor consultoria aos trabalhadores.