Estava eu andando pelas ruas da Capital Federal quando vejo o anúncio em um ônibus divulgando o crédito consignado.
O anúncio era curioso por dois motivos. O primeiro, menos interessante, é que não era de um banco ou de financeira, mas do difundido conceito de “correspondente bancário”. Digo difundido me referindo ao meio financeiro, uma vez que os consumidores apenas percebem tratar-se de um terceiro que vende produtos de crédito de diversas instituições financeiras.
O outro motivo é a foto que ornava a publicidade. Tratava-se de uma figura feminina jovem, com uma mão repleta de cédulas como se fossem um leque e à outra um punhado de sacolas de compras, sendo seguradas pelas alças.
Não preciso nem continuar muito o papo para você saber que fiquei impressionado com a capacidade das pessoas em ultrapassarem o limite da ética.
Em uma empresa, o crédito é tomado para cobrir necessidades de caixa ou para realização de investimentos. No primeiro caso, se o credor, no caso o banco, perceber que o descasamento entre o recebimento de dinheiro e as obrigações que a firma tem para pagar são contínuas, ele nega o dinheiro. Isso quer dizer o seguinte: a empresa está faturando menos do que as despesas que tem a pagar ou, ainda, vendendo em prazo mais longo do que o que tem para suas compras. Ambas situações temerárias do ponto de vista do risco de crédito.
No caso dos investimentos, o banco precisa ficar convencido de que o retorno proporcionado pelo negócio será superior ao custo financeiro do empréstimo.
É óbvio que o empresário minimamente competente fará essas contas antes que o banco e só tomará crédito caso perceba que é vantajoso.
No caso do fluxo de caixa deficitário há o remédio da desimobilização, isto é, venda de imóveis ou outros bens da empresa para regularizar o seu caixa, ou reduzir suas dívidas.
Já com relação ao investimento, a opção é clara: se não der o retorno maior que os juros bancários, simplesmente, ficar de fora e deixar para outra oportunidade.
Voltando ao tema, o empréstimo pessoal para que uma mão fique cheia de dinheiro e a outra de sacolas é a coisa mais imprudente do ponto de vista das finanças pessoais que se possa fazer. Sugiro a leitura dessa postagem para uma ideia do que é o custo da ansiedade e de como ele pode afetar o seu futuro.
Os consumidores costumam não ter noção de que estão vivendo uma vida que não lhes é compatível e que, se assim o fizerem, comprometerão suas próprias compras mais para frente.
É difícil segurar a barra do consumo quando todo mundo da turma está de roupa nova, de sapato novo, de celular novo, de carro, de etc. novo, e por aí vai. Você deve pensar que é fácil falar quando não se tem um sentimento de inferioridade frente ao grupo que se frequenta e eu digo que você tem toda a razão.
Mas eu fugi do tema, porque o papo aqui era a venda de uma falsa ilusão de dinheiro e consumo que não é seu, mas de alguém que quer tudo isso de volta acrescido de juros.
Depois nós falamos mais sobre este assunto.
Beto,
É prática comum no mundo da publicidade a venda de ilusões. O que mais revolta, neste caso específico, relatado por você é que as pessoas já não sabem lidar com o dinheiro e propagandas assim ajuda ainda mais essa deficiencia. Abraço.
Olá, Aécio,
É isso mesmo o que tento dizer nessa postagem. O grande problema é que, enquanto este ônibus está diariamente circulando na cidade, o meu blog aqui fica com esta postagem saindo da primeira página e sendo esquecida pelas outras pessoas que não tiveram oportunidade de lê-la e sobre ela refletir.
Abraço do Beto