Esta postagem é para responder a pergunta feita no meu Instagram @beto__veiga:
Indica fundos de crédito privado nesse momento?
Embora eu mencione o que se passava anteriormente à crise de 2020, tentarei dar uma visão mais ampla do assunto para que este texto fique atemporal.
Breve histórico:
Os fundos de crédito privados eram muito oferecidos – antes da crise e do aumento da percepção de risco – como forma de proporcionar mais rentabilidade do que o DI (e continuarão a ser oferecidos quando as pessoas se esquecerem).
O que isso quer dizer?
As operações de empréstimo às empresas são feitas geralmente com taxa superior ao DI. Assim, as instituições de crédito que fazem estas operações podem vendê-las para fundos de investimento que remuneram seus cotistas um pouco mais do que o CDI e, a partir daí, pegar o dinheiro, tirar a sua margem e fazer novas operações.
Em geral, o cliente desses fundos se contenta com um pouco mais do que a taxa DI (pelo menos antes de grande parte de pequenos bancos e instituições de pagamento passarem a oferecer percentuais elevados acima do DI), de modo que é atraído pelo investimento e não consegue perceber os riscos que estão ai embutidos.
Houve, antes da grande redução nas taxas de juros ocorrida durante o ano de 2019 culminando com a crise de 2020) uma grande procura por eles, e eu lembro de fazer uma forte crítica a um amigo que tem uma empresa de assessoria ligada a um grande corretora.
Eu chamando a atenção para o fato de que apesar desses fundos poderem pagar mais do que o Tesouro Selic, por exemplo, trazem um risco muito maior. Mas eles continuaram oferecendo para atrair clientes para a corretora.
O que aconteceu, com a mudança do cenário em março de 2020, eles apresentaram perdas grandes, pois as taxas de juros cobradas no crédito para as empresas subiram muito, por medo da inadimplência.
O resultado foi que os fundos, recheados de títulos de dívidas, viram o valor da cota ficar bem abaixo do que era.
Existia uma oportunidade aí? Sim, desde que as operações de crédito fossem honradas e que a taxa de juros para essas operações caísse mais à frente.
Tal situação veio a ocorrer com o auxílio do Banco Central, que foi autorizado a adquirir papeis privados, possibilitando uma redução nas taxas de juros.
Algumas instituições financeiras ganharam um bom dinheiro com esta atuação, porque, com a queda, eles compraram muitos desses papéis privados e, após a estabilização, esses papéis se valorizaram bastante.
Portanto, aplicar nesses fundos não é uma atividade para o investidor conservador e passivo. Demanda entendimento do mercado financeiro e dos seus instrumentos, bem como uma certa dose de ousadia para entender os movimentos da economia e fazer apostas em determinados cenários.
Aliás, é preciso habilidade e disposição também para explorar a carteira de cada fundo e analisar a qualidade do crédito que existe ali dentro.
Poderia até dizer que o investidor moderado pode fazer uso desses instrumentos como forma de diversificação, mas levando em conta igualmente, o movimento da economia citado e a inspeção da carteira.
Respondendo: para os investidores passivos e conservadores, não. Para os demais, eles não precisam de indicação.