Para quem está disposto a aplicar no Tesouro Direto, é bom saber que existe uma diferença entre o preço de compra e o de venda do papel, que atinge qualquer dos seus títulos, inclusive a LFT.
Prezado Beto,
Se possível, gostaria novamente de tirar dúvidas.
No dia 11/02/2010 você comenta em seu blog sobre os títulos LFT e NTN-B. Entre o material publicado, destacas que “uma ótima utilização da LFT é formar a sua reserva de segurança, porque em caso de necessidade de saque, você não terá perdas”.
Minhas dúvidas (desculpe se forem óbvias):
a) se não há especulação, como é definido o valor do título no momento de venda (saque)?
b) o valor no momento da venda é sempre igual ou superior ao valor do título no momento da compra mais o rendimento dos juros acumulado ao longo do período em que carreguei o título?
Obrigado desde já,
Martín
Esta pergunta é fundamental, porque me ajuda a clarificar alguns pontos. O primeiro deles é a definição do preço no momento da venda, que é, de certa forma, definido pelo mercado. Digo de certa forma, porque existe a questão da diferença entre o preço de compra e o de venda. Há o que se convenciona chamar “spread” na operação com títulos públicos.
Eu já havia comentado isso em uma outra postagem, mas volto ao tema em função da pergunta do Martin. O spread é uma diferença entre o preço de compra e o de venda, e ele é tanto maior quanto menor for a liquidez do título. Dessa forma, se você compra e vende o título no mesmo dia, por exemplo, sairá com uma perda (alem dos custos da operação) em razão do fato de que o preço de compra (você compra) é maior do que o preço de venda (você está vende). Ontem (24/01/2011), por exemplo, o preço de compra (você compra) de uma LFT com vencimento em 2017 era de R$ 4.527,01, e o de venda (você vende) estava em R$ 4.515,98. A diferença em termos percentuais era de 0,24%.
Voltando à liquidez, quanto mais líquido for o título, menor é esta diferença. No caso, uma LFT é mais líquida (mias negociada no mercado) e, portanto, o preço de compra e de venda são próximos. As NTN-B, por exemplo, têm menos liquidez.
De certo modo, a pergunta “b” ficou respondida (mas ainda assim coloquei uma caixinha com outra explicação abaixo), dado que, dependendo do tempo de aplicação e do spread, o retorno pode ser inferior à diferença entre os preços (spread). Isso é bem raro para o caso de aplicações de mais de um mês, mas é possível que haja tal diferença. Você deve sempre lembrar-se que a operação com Tesouro Direto envolve custos de transação, como aquele cobrado pela CBLC e o outro pelo agente de custódia. Dependendo da forma de cobrança do segundo, também há riscos de perda se a operação for muito curta, motivo pelo qual não aconselho a utilização do Tesouro Direto para prazos inferiores a seis meses, em média.
Suponha que haja um spread de 1% (o valor de compra do título seja R$100 e o de venda R$ 99). Se a taxa de juros for de 0,8% ao mês, se você passar um mês com o título, sairá com menos do que colocou, certo? Porque os valores de compra e venda serão atualizados em 0,8%, para 100,80 e R$ 99,792. Se você pagou R$ 100 (lembre-se que você paga o valor de compra, que é sempre mais alto), quando for vender para o Tesouro ele pagará apenas R$99,79, com prejuízo para você. É claro que se passarem dois meses você não terá perdas do ponto de vista nominal.