Parece que está havendo mais um problema nessa nossa política econômica que é o seguinte: o superávit primário não está sendo utilizado para “pagar os juros” da dívida, mas mantido numa espécie de “conta corrente” do Governo.
Você deve estar se perguntando: ué, é como se eu tivesse devendo no cheque especial e com parte do dinheiro na conta, sem receber nada por ele e pagando juros sobre esse dinheiro? Sim, responderia eu, é isso.
Por que? Porque se o Governo pagar, as taxas de juros caem. De maneira simplificada, a seqüência é a seguinte: se pagamos a dívida, o dinheiro vai para a mão do credor que, não tendo nada para fazer com ele, aceita emprestá-lo com uma taxa menor de juros. É incrível, não? Temos que pagar uma barbaridade de juros para tentarmos manter a taxa de juros alta e a inflação baixa.
Qual seria a alternativa para isso? Este fundo soberano tupiniquim está indo nesta direção, embora, no meu entender, desvirtuada, de fazer investimentos no exterior, em vez de no País, para não forçar o aumento da inflação, e para tirar reais de circulação.
A alternativa a todo este “paradoxo” seria uma redução forte nos gastos do governo, para reduzir a taxa de crescimento econômico, mas é uma medida difícil de ser tomada do ponto de vista político. Há algumas outras medidas que poderiam ser taxadas de “heterodoxas” (fora do pensamento econômico dominante), tais como um aperto no crédito, reduzindo fortemente o financiamento às pessoas físicas (montante e prazos), o que, aliás, já foi feito pelo então ministro Pedro Malan, e alguma restrição à entrada de capitais estrangeiros. De fato, acho que se poderia utilizar a primeira e deixar esta última só para o caso de a primeira ser insuficiente.
O problema é: quem vai bancar isso? Politicamente é mais fácil gastar uma montanha de dinheiro com juros desnecessários do que fazer um aperto com relação ao consumo das famílias. De repente, a sociedade pode entender que a primeira opção é a melhor saída. Acho apenas que deveria ser perguntado a ela.