Este artigo, do meu amigo Álvaro Modernell, sobre finanças do casal. Achei bastante interessante e pedi a ele que me autorizasse reproduzir no blog.
Aproveitem a leitura:
Esse é um dos temas mais intrigantes da área de finanças familiares: como o casal deve cuidar das finanças?
Cada um cuida de uma parte? Juntar tudo e dividir? Utilizar a proporcionalidade? Compartilhar todas as informações ou apenas uma parte? E as despesas pessoais? E como fica a privacidade? É melhor ter conta conjunta ou separada? E quando ela ganha mais? E quando há filhos ou pensão de relações anteriores? Como tratar a diferença de renda do casal?
São questões que merecem profunda reflexão e muita conversa. Não é a toa que pesquisas apontam que as questões financeiras estão entre as principais causas de desentendimentos entre os casais. Muitas vezes levando à separação.
O principal fator desses desentendimentos, sem dúvida, é a falta de conversa. E a falta de definições claras. Começa pelo regime de casamento. Poucos casais dão a isso a importância devida. Principalmente no primeiro matrimônio. E entre jovens, quando o fogo da paixão fala mais alto que tudo, isso é ainda mais raro. Falar sobre dinheiro, patrimônio e finanças antes do casamento ainda é quase tão incomum quanto no tempo dos nossos avós. É mais um tabu que precisa ser quebrado. Não se fala sobre isso antes do casamento, e o pacto de silêncio continua por muitos e muitos anos. Até que os problemas aparecem.
A sociedade americana, nesse aspecto, é mais evoluída. Os pactos pré-nupciais com relação ao patrimônio fazem parte da rotina com total naturalidade. E deveria ser assim no mundo todo.
Casais que conversam sobre esse assunto antes do casamento acabam fazendo isso com maturidade também durante a vida a dois, tornando as coisas mais fáceis. Nota-se entre casais bem-sucedidos nesse aspecto da vida matrimonial que a frequência e a transparência das conversas sobre dinheiro é tão cotidiana quanto outros assuntos relacionados à educação das crianças. Isso é feito de maneira natural e os resultados são mais duradouros, porque contam com a participação e o comprometimento de ambos.
A mulher atualmente é tão provedora quanto o homem. Os dois estudam, trabalham, têm sonhos, fazem planos, cuidam dos filhos, se sacrificam, fazem jornada dupla, ganham, gastam, investem, contraem dívidas, têm sonhos de consumo. O homem está muito mais presente na educação dos filhos. A presença e as ausências em casa estão equilibradas. Os papéis se modificaram muito. Tudo isso afeta a vida do casal. E como!
Mas infelizmente os assuntos financeiros na maioria dos casais ainda não são tratados com a clareza e importância necessárias. Falta-lhes educação financeira. Estudos indicam que geralmente o tema dinheiro só vem à tona quando há problemas como dívidas, gastos excessivos, descontrole, sonegação de informações, prejuízos nos investimentos e outros assuntos desagradáveis. Isso leva os casais a associar conversas sobre dinheiro com desavenças, fazendo com que involuntariamente evitem falar sobre isso, aumentando o potencial dos riscos de problemas nessa área. Jogar os problemas para baixo do tapete ou encobri-los com uma cortina de fumaça faz apenas retardar e aumentar as crises.
Vale a penas recorrer a um famoso ditado popular: “o que é combinado não sai caro”.
A maioria dos problemas surge porque há desentendimentos sobre o que foi ou o que deveria ter sido feito com o dinheiro. Se não há regras claras e acordos sobre o que e como dever ser feito, cada um faz à sua maneira. E isso nem sempre agrada ao outro. Até porque os perfis financeiros das pessoas diferem de maneira muito intensa. Mesmo entre casais que se consideram almas gêmeas. Tem gente previdente e gente impulsiva. Quem pensa no presente e quem se preocupa com o futuro. Uns que gostam de arriscar outros são conservadores. Alguns mais egoístas outros mais parceiros. Pessoas que convivem bem com dívidas e outras que detestam. Gostos simples e requintados. Calculistas e emotivos. Ingênuos e maduros.
Enfim, há uma diversidade de perfis diferentes e os casais precisam conciliar as diferenças e encontrar formas harmônicas de administrar as finanças. Isso sem contar a enorme diferença de experiências e valores culturais que cada um carrega a partir da sua história individual, que influencia diretamente a sua relação com o dinheiro e do seu dinheiro com seu/sua companheiro/a.
Por isso, não tenho dúvida em afirmar que independente do modelo a ser adotado no trato das finanças familiares, a regra mais importante é a existência de definições claras e acordadas pelo casal. Sejam quais forem. Abordaremos algumas alternativas em artigos específicos nas próximas semanas.
Em segundo lugar, diria que conversar pelo menos uma vez por mês a respeito da situação também ajuda muito. Falar sobre planos, sucessos, sonhos, bons resultados é tão necessário quanto conversar sobre a necessidade de controlar e cortar gastos. Não se deve deixar para falar sobre dinheiro apenas quando o cinto aperta.
E quanto mais os dois se interessarem pelo assunto, mais próximos estarão da prosperidade, no sentido mais amplo da palavra. Foi-se também o tempo que as finanças da família eram tratadas apenas por adultos. Os filhos, mesmo as crianças, podem e devem participar. Na medida do cabível também podem opinar e ajudar a construir os planos da família. Isso ajuda no desenvolvimento da maturidade financeira deles.
E para não dizer que não falei das flores, é cada vez maior o número de escolas brasileiras que estão inserindo educação financeira no currículo escolar. O Governo Federal também está fazendo a sua parte. Está tomando corpo a ENEF – Estratégia Nacional de Educação Financeira, coordenada pelo BACEN, CVM, SPC e SUSEP, e já foi “comprada” pelo MEC-Ministério da Educação e Cultura que em breve deve levar educação financeira à todas escolas públicas do Brasil, começando pelo ensino médio e em breve expandindo para o ensino fundamental.
Aos casais, hoje preocupados com a divisão de despesas e decisões sobre investimentos, incluam na agenda familiar também o tema educação financeira. É um assunto muito mais amplo do que simplesmente aprender a lidar com o dinheiro. É uma questão de cidadania e de construção dos alicerces para a prosperidade. E para a felicidade.