Passei a chamar o spread bancário de margem bancária. Sei que o nome não vai “pegar”, mas, pelo menos tento e insisto.
Voltando ao assunto, o presidente da unidade brasileira do grupo segurador Coface, especializado em seguro de crédito e blogueiro Fernando Blanco publicou no jornal Valor Econômico, em 25 de junho, um ótimo artigo denominado “Spread bancário: fatos, mitos e delírios”
Para ele, “A discussão em torno do spread continuará provocando debates. Até porque não existe, ainda, metodologia fidedigna que modele uma função tão individual como é a concessão de crédito.” Continua: ”Em outras palavras, tentar explicar os altos juros cobrados a partir do ‘agregado’ é de uma inutilidade ímpar”.
Exatamente isso que se espera daqueles que cobram caro pelo crédito, que a discussão fique no campo do cálculo. Enquanto se discute a metodologia, outras medidas mais efetivas são postergadas.
Aliás, esta sua assertiva, embora vá ofender muitos “estudiosos” demorou a ser pronunciada: “Esta crítica não é direcionada à sociedade apenas, que se limita a reclamar ou, no máximo, a produzir estudos que não ajudam na busca de soluções.”
Ele lembra que “as instituições financeiras também têm sua cota de responsabilidade pelo clima de contenda que está estabelecido no Brasil, em função do desinteresse em colocar às claras como funciona o seu negócio”. Nesse ponto, acredito que elas estão fazendo o seu papel. Esperara que as IF sejam “Madres Teresa” é demais. Meu pirão primeiro é a ordem do sistema capitalista. Se quisermos um outro comportamento dos agentes, que mudemos o regime. Mas ele não deixa de tratar o assunto, como vemos nessa passagem:
“Emprestar dinheiro é uma transação comercial como outra qualquer, em que asduas partes deveriam tentar maximizar seu retorno. Em geral, no caso das relações bancárias somente o banco tem este objetivo sempre em mente. Quanto menos abastecido de informação – ou abastecido por informações negativas – menores serão as linhas de crédito aprovadas pelo comitê de crédito. E como a lei da oferta e da procura também é presente no mundo crédito, menos oferta de crédito é sinônimo de juros mais altos.”
Sobre a evolução do crédito e a competência dos tomadores:
“O volume de crédito no Brasil cresceu 74% em agosto de 2008 – pré-crise – em comparação a agosto de 2006, mas nem por isso este robusto aumento da oferta de crédito significou uma redução do spread bancário – pelo contrário. Este crescimento de apetite por risco de crédito, por parte das instituições financeiras, trouxe um número imenso de “neo-endividados” para o mercado. Foram cidadãos e empresas com pouca ou nenhuma experiência creditícia, que pagaram os juros que lhes foram cobrados, pois tinham oferta restrita de crédito. Portanto, ainda que o spread caísse fortemente para os tomadores mais experientes, mesmo assim o spread médio subiu, pois os muitos neo-endividados pagaram spreads muito mais altos.”
Educação financeira, minha maior batalha:
“A mensagem final é que os tomadores precisam dedicar mais tempo para entender o crédito e aprender a se relacionar com os bancos. Cabe a cada um de nós decidir se vai continuar pagando o que nos cobram ou mudar o cenário, sempre na base de muita negociação e aprimoramento das informações oferecidas aos bancos.”
Pois é, Fernando, estamos de acordo. Aliás, acho que este é um assunto para ser tratado de forma segmentada, criando soluções de educação para cada um dos grupos de agentes envolvidos.
Olá Beto,
Muito obrigado pelos seus comentários tão elogiosos sobre o meu artigo, publicado no Valor.
Gostei da sua definição de margem bancária. Assim como acontece com a margem empresarial convencional, aqui também deveríamos pensar em:
a. Margem bruta, que é spread propriamente dito.
b. Margem líquida, que é aquela em que se desconta do spread os impostos, custos, compulsório, etc.
Parabéns pelo blog – vai para o meu blogroll.
Abraços, Fernando
Olá, Fernando,
Isso mesmo. Temos que deixar esse nosso lado de “macaquitos”, copiando a terminologia importada, como é o caso danoso de “securitização” e “derivativos”. Uma pena que nesses casos me parece que não há caminho de volta.
Quero aproveitar para parabenizar não só este mas os demais que escreve no seu Blog do Crédito que também está na minha lista.
Abraço do Beto