Nessa postagem revisitarei uma entrevista feita comigo pelo jornalista especialista em finanças João Sandrini, à época, na Exame.
O título da matéria ficou assim: 15 respostas essenciais sobre o Tesouro Direto.
As perguntas são as originais, enquanto as respostas, farei, quando necessário, para ajustar ao atual cenário econômico e às mudanças em alguns procedimentos do Tesouro Direto:
Qual é o melhor título público para ser comprado no Tesouro Direto?
Depende do perfil de risco e do objetivo do investidor. Há três tipos principais de títulos negociados pelo Tesouro Direto: as LFT (Tesouro Selic), as NTN-B (Tesouro IPCA, que pode ser com juros semestrais ou sem) e as LTN (Tesouro Prefixado, que pode ser igualmente com juros semestrais ou sem). Cada um deles serve para diferentes objetivos.
Para quem são indicadas as LFT?
As LFT (Letras Financeiras do Tesouro) ou sob o nome de fantasia de Tesouro Selic, são recomendadas para quem não gosta de correr riscos e para quem pode precisar resgatar o dinheiro a qualquer momento. Não é à toa que esses são os papéis da dívida pública preferidos pelas tesourarias dos grandes bancos e também os que o Tesouro Nacional menos gosta de emitir. O Tesouro Selic paga juros equivalentes à taxa Selic (os juros básicos da economia brasileira). O investidor que odeia volatilidade (variações nos preços) e não suporta a ideia de perder dinheiro – nem que seja apenas por alguns dias ou semanas – deve comprar apenas esses títulos. Os outros, apesar de também serem de renda fixa, podem ter fortes oscilações de valor de mercado, causando pesadas perdas aos poupadores que quiserem revendê-los antes do vencimento.
O Tesouro Selic também é o melhor papel para deixar investido o chamado fundo de emergência. Sugiro que você visite esta postagem para entender melhor sobre esta reserva.
Quem deve investir em NTN-B?
A denominação de fantasia da NTN-B é Tesouro IPCA. Esses são os títulos indicados para quem tem um objetivo claro de longo prazo, ou que entenda perfeitamente o seu funcionamento para aproveitar determinados movimentos no mercado de juros.
Alguém que planeja dar a entrada em um imóvel financiado daqui a cinco anos e gostaria que o capital já acumulado fosse remunerado com uma taxa acima da inflação pré determinada, por exemplo.
Hoje, os papéis Tesouro IPCA pagam ao investidor a inflação medida pelo IPCA mais uma taxa de juros em torno de 5% ao ano. O investidor que compra esse título tem a segurança de proteger seu dinheiro dos efeitos corrosivos da inflação. O risco que precisa ser aceito é o das oscilações das taxas de juros no Brasil. Se daqui a dois anos os juros reais estiverem em 8%, por exemplo, o investidor que carrega um papel que paga 6% terá de aceitar um grande desconto no valor de mercado ao vendê-lo antes do vencimento. Já se os juros reais caírem para 3% ao ano, esse investidor ganhará um bom dinheiro (visite a postagem sobre renda fixa que está no link anterior).
E qual é a diferença entre NTN-B e NTN-C?
As NTN-C são semelhantes às NTN-B, só que o componente variável (a taxa de inflação) é diferente. As NTN-C estão indexadas ao IGP-M (índice que dá maior importância aos preços cobrados no atacado) enquanto as NTN-B pagam o IPCA (índice de preços ao consumidor). O investidor, no entanto, não deve considerar as NTN-C uma opção porque hoje o Tesouro Nacional não emite mais esse papel. Apenas as pessoas que possuem esse tipo de título em carteira podem revendê-lo ao governo. Outro papel público que não está disponível para pessoas físicas via Tesouro Direto é a NTN-D, um título cambial.
E as LTN, para quem são ideais?
O especialista Beto Veiga costuma afirmar ironicamente que a compra de Tesouro Prefixado (LTN) é para quem quer dar uma de George Soros. O título paga uma taxa de juros prefixada. O investidor que comprar o papel vai receber, por exemplo, 11% ao ano até seu vencimento. Para a definição desse percentual, o mercado leva em conta a taxa de juros atual mais as expectativas futuras para a Selic. O investidor vai ganhar dinheiro com a LTN em uma situação em que os juros caiam mais do que o esperado pelo mercado no momento da compra do papel.
Como é difícil antever o futuro melhor do que grandes bancos, que contam com equipes de economistas inteiramente dedicados a essa tarefa, Veiga aconselha o investidor comum a ser humilde o suficiente para evitar esse papel a não ser em momentos em que pareça muito claro que os juros cairão e permanecerão baixos por muito tempo. As LTN possuem um título-irmão, as NTN-F. A principal diferença entre os dois papéis é que a NTN-F paga uma remuneração semestral (entenda isso na próxima pergunta).
Qual a diferença entre títulos com ou sem cupom?
Pelo Tesouro Direto, é possível comprar títulos com cupom semestral (Tesouro IPCA e Tesouro Prefixado com juros semestrais) e sem cupom semestral (Tesouro IPCA e Tesouro Prefixado). O cupom é o pagamento de juros do papel. Uma NTN-F com cupom semestral de 5% e valor de mercado de 1.000 reais, por exemplo, vai pagar 50 reais de juros ao investidor a cada seis meses. O termo “cupom” vem do tempo em que os títulos eram impressos em papel e possuíam pequenos cupons que eram destacados e trocados pelo equivalente em dinheiro aos juros. Hoje os títulos não são mais físicos, mas o termo continuou a ser usado.
Beto Veiga só recomenda a compra de títulos com cupom para quem precisa receber os juros dos papéis para “viver de renda”. Os investidores que planejam manter os recursos investidos por longos períodos só vão perder tempo e dinheiro com um título com cupom. A perda de dinheiro acontece porque toda vez que o investidor recebe o cupom paga Imposto de Renda (veja a regra dos impostos logo a seguir). Com um título que não paga cupom, o valor equivalente ao IR só será recolhido no resgate e renderá juros até lá.
Já a perda de tempo deve-se à necessidade de reinvestir o cupom. Um investidor que tenha apenas 1.000 reais aplicados e receba 50 reais de cupom semestral, por exemplo, terá que, a cada vencimento, agendar a nova aplicação. Se o valor for menor do que este, deve observar que a aplicação mínima no Tesouro Direto é 30 reais.
Mas como se dá a remuneração dos títulos sem cupom?
Quem compra um título sem cupom tem nas mãos um papel que se valoriza diariamente na proporção da taxa de juros. Imagine, por exemplo, que uma LFT vale 1.000 reais e que a Selic do dia é equivalente a 10% ao ano. No dia seguinte, o papel vai valer 1.000,38 reais. Os 38 centavos são equivalente aos juros de um dia útil para uma taxa de 10% a cada 252 dias úteis. O valor do papel tende a crescer dia a dia até a data do vencimento. Quem vende o título antes disso, portanto, se apropria dos ganhos proporcionais ao tempo em que o carregou.
Que impostos precisam ser pagos no Tesouro Direto?
A maioria dos investimentos em renda fixa no Brasil está sujeita ao recolhimento na fonte de Imposto de Renda e IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Com o Tesouro Direto, não é diferente. O IOF é cobrado apenas para aplicações com prazo de até 30 dias. Já o Imposto de Renda segue uma tabela regressiva em que a alíquota cai à medida que o tempo passa. Será recolhido na fonte um IR equivalente a 22,5% dos lucros para aplicações de até 180 dias corridos, 20% para prazos entre 181 e 360 dias, 17,5% para 361 a 720 dias e 15% para investimentos por mais de 720 dias.
É importante notar que os títulos que pagam cupom (os papéis com juros semestrais) seguem uma dinâmica própria. O parcela de cupom paga antes de seis meses de investimento será taxada em 22,5%, o pagamento seguinte terá 20% do lucro descontado na fonte, e assim por diante, mesmo que o investidor não se desfaça da aplicação. É por esse motivo que o investidor de longo prazo não deve comprar papéis com pagamento de juros semestrais.
Se eu não conseguir definir que títulos comprar, é uma boa ideia montar uma carteira diversificada com vários títulos?
No caso do Tesouro Direto, nem sempre diversificar reduz o risco da carteira como na bolsa. O investidor precisa ter cuidado para não fazer uma diversificação burra e comprar, por exemplo, um Tesouro Prefixado pouco antes de o Banco Central começar a subir os juros. A maneira mais simples de ter uma carteira de baixo risco é comprar apenas Tesouro Selic. A diversificação deve ser feita quando os objetivos de cada porção de dinheiro são diferentes e estão muito bem definidos.
O que preciso fazer para começar a investir?
É preciso ter uma conta em um banco ou corretora habilitada a intermediar negociações com títulos públicos (quase todas). As negociações poderão ser feitas pelo próprio site da corretora ou pela página do Tesouro Direto. Os títulos podem ser comprados em qualquer dia.
Qual é o custo de investir pelo Tesouro Direto?
Além dos impostos, os investidores também terão o lucro corroído pelas taxas de negociação e custódia dos títulos. É cobrada a taxa de custódia da B3 (antiga BM&FBovespa), que alcança 0,30% ao ano. É cobrada semestralmente, no primeiro dia útil de janeiro ou julho. Por último, existe a taxa de administração da corretora. Os valores cobrados por cada uma variam de zero a 2% ao ano. Clique aqui e veja quanto cobra cada instituição.
Qual é a melhor corretora para investir em títulos públicos?
Não há grandes diferenças entre os serviços prestados por cada corretora no Tesouro Direto. A dica, portanto, é contratar uma das corretoras que cobra as menores taxas de administração. Certifique-se apenas que a instituição possui a infraestrutura mínima necessária para lhe ajudar com suas dúvidas, se tem disponibilidade para atender às suas chamadas e se os funcionários são atenciosos com você.
Como faço para resgatar meu dinheiro?
Quando compra um título com vencimento em 2035, por exemplo, o investidor não precisará esperar até lá para pegar seu dinheiro de volta corrigido com juros. As aplicações no Tesouro Direto possuem liquidez diária. O governo recompra os papéis em poder do público todos os dias, com exceção dos finais de semana, quando as operações são levadas para o dia útil seguinte. Quando revende um título e resgata seus recursos, a rentabilidade vai depender do tipo de papel. Como falado aqui, no caso dos papéis Tesouro IPCA e Tesouro Prefixado, a venda antecipada pode causar perda de valor em razão das condições de mercado.
O Tesouro Direto é sempre melhor que a poupança, os fundos de DI e os CDBs?
Não. Para Beto Veiga, os títulos públicos indexados à Seilic (Tesouro Selic) batem a poupança desde que a taxa esteja em 9% ou mais. Com taxas mais baixas, é preciso verificar o prazo de aplicação e as condições de taxas cobradas pelos agentes de custódia.
Já os fundos DI só são mais interessantes que o Tesouro Direto se a taxa de administração do fundo for menor que o custo de transação dos títulos – algo raro. Já os CDBs que pagam 100% do CDI são sempre mais interessantes do que o Tesouro Selic porque não há taxas para a compra dos papéis bancários. O risco de quebra de um banco, entretanto, é bem maior do que o do calote do governo. É interessante, portanto, investir em CDB 250.000 reais ou menos por instituição financeira porque o Fundo Garantidor de Crédito ressarce o prejuízo do investidor até esse patamar em caso de quebra do banco.
Esse é um bom momento para investir em renda fixa?
Os juros caíram muito no Brasil na última década. O País, entretanto, ainda paga uma das maiores taxas de juros do mundo. Títulos públicos continuam a ser, portanto, uma forma de acumular capital e obter uma remuneração atraente sem correr o risco elevado das aplicações de renda variável nem da abertura de um negócio próprio.