1 comentário

  1. Prezado amigo Beto Veiga,

    Como eu acredito que fui eu o autor da “provocação”, quero comentar algo sobre ela.

    De fato, pelo que andei acompanhando dos mercados nos últimos 30 dias, não houve, até o momento, qualquer tipo de “decoupling” entre os mercados financeiros do resto do mundo e o da “matriz” (EUA). Um caso emblemático talvez seja o comportamento dos mercados em 21/02/2008 – feriado em NY, portanto, sem operações naquela praça: as Bolsas do mundo inteiro despecaram pois ficaram sem sua referência principal – Nova York.

    Além disso, quem acompanha a Bolsa diariamente sabe que os indicadores do Brasil e dos EUA se movimentam, com raríssimas exceções, simultaneamente nas mesmas direções.

    Esses dados, portanto, corroboram sua brilhante e sucinta explicação sobre o assunto. Entretanto, eu gostaria de colocar duas opiniões que ouvi recentemente sobre o “decoupling” e que acho relevantes.

    A primeira é a do economista “José Roberto Mendonça de Barros”, que, em uma entrevista para o jornal “Valor Econômico” da edição de 28/01/2008, sustentou que o “decoupling” se refere à economia real, e não aos mercados financeiros. Reproduzo a parte da entrevista na qual ele introduz tal opinião: “Se isso se confirmar [eficácia nas medidas adotadas pelas autoridades monetárias], acaba ainda por prevalecer uma certa questão do ‘decoupling’. Um parêntese: muita gente está dizendo que o descolamento morreu porque as bolsas do mundo inteiro caíram. É um argumento equivocado. A idéia do descolamento se refere à economia real. O mercado financeiro está integrado no mundo inteiro. É impossível ocorrer uma queda forte numa bolsa importante sem que isso aconteça em outras praças. O teste de verdade é o que vai ocorrer com o ciclo econômico. “

    Na minha opinião, porém, se os mercados financeiros antecipam o que ocorre na economia real, obviamente teriam também que se descolar em algum momento: não há lógica em uma situação em que os lucros das empresas estão aumentando e o preço de suas ações caindo.

    A outra opinião que ouvi, é a do economista Ricardo Amorim, em uma intervenção no programa “Manhattan Conecttion” do último domingo (27/01/2008). Segundo Amorim, haverá sim o “decoupling” pois os mercados emergentes continuarão a crescer mesmo com a provável recessão na economia americana, tendo em vista que as principais economias emergentes – China e Índia – já estavam, antes da crise, com níveis de crescimento econômico muito elevados, e, portanto, estavam estudando medidas para reduzir um pouco o nível de expansão – provavelmente medidas de política monetária para reduzir o consumo interno. A crise nos EUA, portanto, permite que tal ajuste seja feito pelo setor externo dessas economias, fazendo com que não sejam necessárias medidas para conter a demanda interna nessas economias. Assim, sem qualquer alteração nos regimes cambiais e monetários da China e da Índia, o crescimento dessas economias cairia para algo em torno de 8% ao ano, crescimento este, de economias grandes e importantes, porém, sustentaria os demais mercados emergentes, inclusive o Brasil. Estaria, portanto, configurado o decoupling.

    Bom, fica a contribuição aí para o debate.

    Grande abraço e parabéns pelo livro e pelo Blog.
    Fábio Mendes
    (mendes.fl@gmail.com)

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