1 comentário

  1. Prezado Beto Veiga,

    Esse tema [decoupling] realmente é muito interessante, pois, acredito, seria algo inusitado acontecendo no sistema econômico: o início de uma relativização do papel dos EUA e de sua economia no mundo.

    Mas vamos lá. Continuando o debate. Eu acredito que exista, talvez, uma questão de precisão conceitual separando a opinião dos economistas que estão afirmando que o descolamento se verificará, e os que, Beto Veiga incluso, sustentam que isso não existe.

    Realmente é irrefutável a sua argumentação de que o processo de globalização torna as economias mais interdependentes, e, de fato, a questão do outsourcing é emblemática: se quem paga pelo serviço indiano é o americano, e se o americano fica mais pobre, então o indiano irá sofrer também.

    Voltando a questão da precisão conceitual que estaria separando as opiniões. Acho que precisamos colocar a questão do decoupling em níveis de gradação. Um completo descolamento das economias emergentes de eventuais problemas na economia americana realmente é algo absurdo, como percebemos nos seus posts.Mas, hoje, elas parecem sofrer bem menos do que há 10 anos atrás.

    Se compararmos o impacto que uma recessão nos EUA provocaria nas economias periféricas – a maioria delas com problemas de desequilíbrios cambiais – na década passada, com o comportamento dessas economias, hoje, a modificação é dramática. Há dez anos atrás, um soluço nos EUA, provocava corrida dos investidores dos mercados emergentes, dólar disparando, taxas de juros na estratosfera, pedidos de empréstimos ao FMI, etc, etc, etc. Hoje, a situação é completamente outra. Desde então, os países periféricos, Brasil incluso, fizeram seus deveres de casa [ajustes fiscais] e adotaram regimes cambiais flutuantes. Some-se a isso a elevação dos preços das commodities que inundou essas economias de dólares, acabando com os riscos de insolvência externa.

    Resultado disso, por exemplo, no Brasil, vemos as principais autoridades e bancos prevendo crescimento de 4,5% da economia brasileira, apesar de os EUA desacelerem de 4,5 para 1,5% na melhor das hipóteses. Então, só aí já vemos que existe uma modificação, com economias periféricas sofrendo bem menos com soluços do “V12” (o termo é ótimo).

    Então, será que é absurdo afirmar que, hoje, apesar de as economias estarem mais integradas, problemas na economia americana geram bem menos problemas nos demais países que há 10 anos atrás? E esse processo pode ser entendido como “decoupling”, ou não?

    O que eu entendi do seu primeiro post sobre descolamento, quando vc fala que o efeito seria similar ao das modificações nas taxas de juros, é que os efeitos da desaceleração nos EUA nas demais economias seria no médio prazo, assim como o efeito da política monetária. Mas, olha só: há dez anos atrás, somente sinais de soluços nos EUA provocava problemas nos mercados financeiros dos países periféricos, e, isso acabava se refletindo na economia real muito rapidamente. Então, parece que temos uma mudança aí também.

    Por outro lado, a questão da Ásia. Há 10 anos atrás a China não era esse colosso econômico que é hoje, a Índia também não, e a economia russa estava fazendo “default” na dívida externa e o PIB despencando. Hoje a situação é completamente diferente. Essas três economias estão crescendo todas acima de 8% ano, a China 11%, e, até agora, não vi previsão de economistas falando em recessão nesses mercados, pois as economias em que há sinais de recessão são : Japão, Inglaterra, Espanha, Itália, Cingapura e HongKong. Enquanto que China, Rússia, Brasil e Índia não existem nem sinais e nem previsões de desaceleração.

    Resumindo: “decoupling” completo é algo realmente meio absurdo, entretanto, parece que, hoje, as economias periféricas sofrem bem menos com os soluços da economia americana.

    Grande abraço.
    Fábio Mendes

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