Não gosto do mantra que tem sido repetido: quando os juros caem, você precisa correr mais risco. Isso não tem a mínima lógica se não for completado. Na realidade, a frase correta é: quando os juros caem você tem que correr realmente mais risco para ganhar o mesmo que ganhava, procurar outras opções de investimento mais rentáveis, reduzir os custos do seu investimento, ou trabalhar mais.
De fato, em vez de uma única opção, quem quer ganhar dinheiro com sua riqueza tem que avaliar outras alternativas. É certo que trabalhar mais é um resultado óbvio, mas deve ser pensado também, principalmente se você é jovem.
O problemão acontece quando pensamos que a solução é a simples tomada de mais risco. Isso é uma verdade parcial e temporária. Explico: a maioria das pessoas entendem tomar mais risco por investir no mercado de ações. Isso não é necessariamente correto. Além do que, quando os juros começam a cair, a remuneração de todo o capital, com forte fundamento econômico, também cai em termos percentuais. Eles andam juntos.
Mas o que é a remuneração do capital? São os rendimentos que o capital propicia. Por exemplo, o aluguel, os dividendos. Veja que se os juros caírem, há uma grande procura por outros investimentos, deslocando o dinheiro que estava “retido” nos bancos para opções mais produtivas. Da mesma forma, as operações de crédito ficam mais baratas, fazendo com que os empresários, por exemplo, se aventurem em novos negócios. Toda esta movimentação aumenta a procura por máquinas, equipamentos, instalações, imóveis (prédios, áreas, galpões). Resultado: os preços sobem.
Imagine que você tenha um galpão que está alugado por R$ 1.000,00 e que custasse R$ 100.000,00 para vendê-lo antes da redução dos juros. Após o movimento de queda da taxa, seu galpão se valorizasse para R$ 150.000,00. A princípio você teria um ganho de capital de R$ 50.000,00, mas ao passar a “viver de renda” o percentual que ele iria lhe proporcionar em termos de retorno não mais seria de 1% ao mês, mas de 0,67%. Isto quer dizer que o retorno do seu imóvel reduziu-se.
O que verificamos, portanto, é que embora o mercado de ações propicie um forte ganho de capital quando os juros caem, no começo da queda, e quem está investindo nesse mercado percebe uma renda extra na forma de ganho de capital, os dividendos gerados pelas empresas, se forem calculados como percentual do valor da ação (dividend yield) também irá cair. O mesmo acontece com relação aos imóveis, como vimos, e com todos os outros “bens de capital”.
Vamos continuar este papo em algum momento no futuro.
Excelente tema! Realmente, os analistas e as reportagens sobre esse assunto são bem simplista nesse ponto.
Também é importante levar em consideração que há ações que têm pago dividendos maiores que os juros pagos pela renda fixa, constantemente ao longo dos anos. Assim, talvez seja o caso de alocar um pouco do capital na renda fixa para boas pagadoras de dividendos que tenham uma boa situação econômica.
É Fábio,
Creio que você quiz dizer que é bom colocar o dinheiro em alguns papéis que pagam bons dividendos. Isso é verdade.
Há dois pontos a considerar: O primeiro é que ainda que os dividendos sejam bons, conforme falei na postagem, percentualmente eles diminuem à medida que o preço do papel sobe.
O outro é em relação à empresa. Ainda que seja muito boa, dependendo do percentual de dividendos que estiver sendo pago, pode demonstrar uma “saída” dos controladores (exite um exemplo no setor de distribuição de energia), o que significa dificuldades futuras ou, ainda, desatualização tecnológica.
Lembre-se: salvo me provem muito bem em contrário, “governança corporativa” é conversa para boi dormir. Não fosse assim não haveria crises.
Olá, Fábio,
Deixei para responder depois e acabei enrolado. Você tem razão com relação ao investimento em ações boas pagadoras de dividendos, mas tem que ter cuidado com uma “super” pagadora de dividendos, que pode representar a “depreciação” da empresa.
Muito grato pelo comentário e um abraço do Beto