Esta postagem de criar uma certa indignação nos leitores mais cônscios (exagerou, não é?) da grandeza de suas próprias vidas, mas, dada a insistência da mídia em transformar todos os corpos em esculturais e todas as coisas em indispensáveis, cá venho eu fazer o papel de contraponto.
Uma coisa que quero dizer de entrada é que este texto é apenas o começo de uma longa caminhada. Como uma vez o Éverton (um contribuidor do blog) bem falou, podemos estar diante de um papo para anos de discussões. Mas como não tê-la?
Além do mais, ainda aqueles indignados, de vez em quando se vêm pensando em consumir alguma coisa, salvo raríssimas exceções. Quando falo em consumir alguma coisa refiro-me a algo que não seja essencial para vida. Ou, ainda, se o for, que não esteja no nível do essencial, isto é: almoçar em um restaurante X ou Y que cobra mais caro pela sua comida. Já vi pessoas tidas como “descoladas”, que exprimiam sua admiração com bens de luxo, como carros importados, numa referência à riqueza de quem os possuía.
Então, me parece que, como no ditado “tanto bate até que fura”, o esforço do mundo do consumo consegue realmente impregnar ideias, imagens, crenças, enfim, que nos levam a desejar ou a imaginar as coisas como elas deveriam ser e não como são.
Mais ainda, a programarmos o nível de satisfação que temos com o mundo a partir da aquisição de determinados itens “indispensáveis” ou da prestação de serviços “diferenciados”.
Como bem falei que é um primeiro papo sobre o tema, estou começando a construir esta reflexão a partir de um texto bíblico denominado Eclesiastes (ou, segundo algumas traduções, o Pregador). Não que eu seja um estudioso da Bíblia, muito longe disso, mas é um texto que deveria ser lido, pois, embora faça menção a Deus, está um pouco afastado do conceito do que poderia chamar de religioso. Diria que mais aproxima-se a algo filosófico, também encontrado em outro texto que mencionarei oportunamente, do filósofo Luc Ferry (este último autor já mencionado aqui e citado em meu último livro Tranquilidade Financeira – Saiba como investir no seu futuro).
O ponto curioso do Eclesiastes (e aqui, os mais afetos ao assunto, por favor, comentem e me corrijam se interpretei errado) questiona justamente aspectos da vida que nos levam a correr atrás de coisas inúteis e da vaidade, embora, em determinada passagem nos mande diretamente para os atos de comer e beber, que seriam os prazeres básicos da vida. O beber aqui é o vinho e não a água. Aliás, faz ainda menção a desfrutar “a vida com a mulher amada”.
Sim, o texto não fala para comprarmos um carro de luxo, nem para vestirmos roupas de grife, muito menos para colocarmos silicone nas diversas partes do corpo, dado que o objetivo, à exceção desses prazeres “básicos” listados no parágrafo anterior, que, ainda assim são vaidade na concepção do autor, é mostrar que a vida pode ser vivida de forma menos carregada de trabalho. Não no sentido de pregar a vagabundice, mas de não pregar a escravidão.
Beto,
lendo o texto eu o vejo como um desabafo e tenho algumas observações para fazer. Em primeiro lugar a sua concepção de “consumir alguma coisa” é algo que me soou imprecisa. É muito importante distinguir consumo de consumismo. Além disso, acredito que as configurações sociais atuais influenciaram a mídia, não o contrário. Isso porque são membros da sociedade que constróem os veículos de informação e como parte dela, os veículos de mídia ficam influenciados pelos indivíduos que as tornam concretas. Existe um meio termo que também considero, onde por fazer parte de um mesmo cesto, sociedade e mídia andam de mãos dadas.
Por fim, posso dizer que não acredito na “escravidão” dos indivíduos pelo “sistema”, mas na influência(não “escravidão”, não há “aprisionamento) do sistema pelos indivíduos, que peculiarmante ao difundir certos valores (os quais eu também critico) acabam por influenciar outros e outros e outros.
Sobre a passagem bíblica, fiquei curioso e lerei!
Um abraço e parabéns pela iniciativa!
Daniel L. Ruffo
Muito boa a proposta de reflexão que você trouxe!
É como eu escrevi outro dia “Muitos brasileiros veem no consumo a oportunidade de acariciar sua felicidade e utilizam o cheque especial todo mês somente para manter a imagem de pessoas felizes e com grande poder de compra, só que o mais importante nessa vida é ter brilho nos olhos, atitude positiva, autoestima legal, o desejo de estar bem consigo e com seus afetos.”
Abraço!
Olá, Bernadette,
Agradeço imensamente o comentário, que muito contribui com o entendimento das pessoas sobre a real ação de consumir, quando confrontada com o desejo de felicidade.
Concordo inteiramente com o que escreveu.
Abraço do Beto
Olá, Daniel,
Sim, é um desabafo, porque todo o trabalho que é feito na área de educação financeira acaba ficando a ver navios por conta dos estragos que o desejo de comprar causa nas pessoas, principalmente nas que possuem menos recursos.
Concordo que é preciso distinguir consumo de consumismo, mas o consumo em si, já é complicado. Por exemplo, um celular de última geração pode ser considerado apenas consumo, mas não consumismo. Ainda assim, gastar quase ou mais do que um mês de salário para adquirir um desses pode ser algo muito danoso para o indivíduo, ainda que este não seja considerado consumista.
Sobre sua última observação, concordo totalmente. Aliás, este é o trabalho que estamos (eu e você) fazendo aqui.
Aguardo novos comentários neste ou em outras postagens.
Abraço do Beto
Quero aproveitar uma experiência que tive a poucos minutos para falar do assunto.No fundo, todos achamos que existe felicidade fora do consumo . A questão é, quando nós deparamos com situações onde somos postos a “prova”, vejo que reagimos de forma diversa da pretendida pela idéia exposta. Entendo que o consumo faz parte do processo de felicidade , diferente do consumismo que gera momentos de eufória e em seguida um vazio.Eu achava que meu aparelho celular , apesar de ter custado o valor de um notebook , não me trazia grandes vantagens e só era usado como telefone e para acesso à internet.Ele desapareceu em em um evento fechado , o que me deixou muito chateada e sentindo a falta dele mas aí vem a reflexão :outro aparelho mais barato me atenderia , eu não teria o prejuízo financeiro, e não teria perdido o sono.