Esta postagem tem origem no livro que recomendo sempre: A Ascensão do Dinheiro, de Niall Ferguson, um historiador britânico especialista em assuntos econômicos. O que me levou a compartilhar este trecho do livro com vocês foi a explicação que costumamos ouvir sobre a nossa paixão por adquirir imóveis. Dizem que herdamos isso dos portugueses, e que os anglo-saxões teriam outras formas investimento que não essa.
Eu não vou, nesta postagem de hoje, tratar especificamente dessa discussão, mas trazer uma curiosidade sobre um jogo que tinha o nome, no Brasil, de Banco Imobiliário, e agora, com a difusão dos termos em língua inglesa, passamos a chamá-lo, como lá, de Monopoly.
Segundo o autor, este jogo foi imaginado em 1903, por Elizabeth Phillips, que era devota do economista radical Henry George. Niall afirma que o sonho de “Lizzie” era que a tributação se desse exclusivamente na forma de um imposto sobre a propriedade de terras.
Vejam vocês: a ideia do jogo era demonstrar a “iniquidade de um sistema social no qual uma pequena minoria de proprietários lucrasse com o aluguel que eles cobram dos locatários”.
Na realidade, como explica o historiador, o jogo não era exatamente igual ao Banco Imobiliário, porque era um pouco complexo para ser vendido à massa, embora tivesse o mesmo tabuleiro retangular e a casa “Vá para a prisão”. Aliás, complicar o modelo é bem típico de economista…
O jogo foi então remodelado por um engenheiro desempregado que, dentre outras coisas, fez as casinhas e os hotéis que você constrói nas propriedades que adquire e vendeu a ideia para um fabricante de brinquedos em 1934.
O jogo traz realmente todas as atividades voltadas à obtenção de renda, principalmente as monopolísticas, como é o caso da propriedade de estradas de ferro, de serviços públicos (distribuidoras de eletricidade, etc.), de terra e de imóveis (obviamente). Ademais, o capital também surge nas operações de crédito realizadas pelo banco com a cobrança de juros.
Niall Ferguson conta até mesmo que o jogo serviu, além da difusão do lado virtuoso do modelo que pretendia combater, de uma forma para auxiliar os britânicos a escaparem das prisões nazistas da Segunda Guerra, vez que era distribuído pela Cruz Vermelha para os prisioneiros. Dentro das embalagens seguiam mapas e moeda real para a fuga.
Para concluir a historinha do jogo, ele comenta que, embora tenha sido jogado por muitos americanos e ingleses desempregados, a brincadeira os levava a sonhar que eram capazes de comprar a rua inteira. Niall ressalta que a conclusão do jogo, em completa contradição com o objetivo imaginado inicialmente, é que é esperto quem adquire propriedades, e “quanto mais você possui, mais você ganha”. E conclui: “No mundo de língua inglesa, tornou-se uma verdade amplamente conhecida que nada bate os tijolos e a argamassa no campo dos investimentos”.
Lembro que ele faz o comentário de maneira irônica, porque, logo em seguida, complementa que não há nada mais seguro do que emprestar para quem tem uma casa, que é o objetivo principal do mundo das finanças. Assunto que temos que tratar mais detalhadamente em outra postagem.
Esta história do investimento em imóveis não termina aí. Voltamos oportunamente.
Crédito da foto: CHRISTOPHER DOMBRES em Flickr.
Muito bom saber a história deste jogo tão divertido!