Alguém, não sei quem, resolveu confundir a instabilidade do capitalismo com a instabilidade do sistema financeiro. Na realidade, o sistema financeiro está achando ótimo ser confundido com o capitalismo, para que possa ser defendido integralmente no “pacote” de defesa da liberdade e da livre iniciativa. Mas eu acho que isso (sistema financeiro) é outro bicho.
A propósito, não sou apenas eu quem considera assim. Daron Acemoglu, Simon Johnson e James Robinson, no artigo “Institutions as the fundamental cause of long-run growth”, são claros ao afirmar que os empreendedores que “colonizaram” o oeste dos EUA impuseram restrições ao funcionamento dos bancos, dentre elas a limitação às taxas de juros e ao tamanho dessas instituições. Os empresários da “economia real” já tinham uma visão acertada sobre os malefícios que a concentração financeira podem causar ao fornecimento do arroz com feijão.
E não para por aí, o Financial Times está fazendo uma série sobre o tema “o fim do capitalismo”. Um dos artigos da série, traduzido pelo jornal Valor e assinado por Samuel Brittan, autor do livro “Capitalism and the Permissive Society”, defende com veemência esta forma de organização econômica. Brittan reconhece, ainda, que esqueceu de enveredar pelo tema bancos, mas registra o seu entendimento sobre o sistema financeiro:
“A deficiência real de meu livro foi que, como muitos outros, não discuti o setor financeiro e as maneiras como suas atividades podem minar a ordem capitalista, mesmo se não houver inflação ou deflação ostensiva nos preços ao consumidor.” O autor ratifica a importância de algum mecanismo que proporcione o encontro entre quem poupa e quem investe. A palavra poupar aí significa deixar de gastar o dinheiro para usá-lo depois e a investir tem a ver com o ato de empreender. Também reconhece a necessidade de um setor de seguros, de modo a proteger o cidadão “contra as vicissitudes da vida”, mas ressalva que “nada disso justifica a ameaça – criada pelas massas de dinheiro inventado – para uma instituição após outra e um país após outro”.
Concordamos plenamente sobre todos esses pontos, ainda mais quando ele afirma que “O capitalismo é um meio para termos liberdade e prosperidade, e não um fim em si mesmo”. O sistema financeiro também é um meio e pronto! Não pode ser considerado um fim. Nunca. O problema é que agora é um pouco tarde para tomar medidas efetivas, porque a concentração de recursos e de poder político nas mãos desse sistema já estão postas. Brittan, que foi um dos poucos economistas britânicos a defenderem abertamente a politica liberal de Margaret Thatcher, entende que “melhorias, nesse terreno, podem justificar não apenas regulamentação internacional [do sistema financeiro], mas a retenção, na esfera estatal, por um tempo bastante prolongado, de bancos e outras instituições que tiveram de ser socorridos por governos”.
Eu acho que isso não é muito eficiente, porque a regulação é facilmente capturada pelos regulados. Se pesquisarmos as origens e vida pregressa dos reguladores, sempre veremos os pontos de contato com o setor que regulam. Eles também defrontam-se como o receio de qual será o seu futuro ao deixar o cargo temporário que ocupam. Da mesma maneira, permitir que o sistema de crédito (bancos públicos) fique sujeito a ações políticas é indesejável.
É um sonho imaginarmos que será possível, de maneira ordenada, desenharmos um novo sistema financeiro. O que se pode sempre esperar nesse sentido é que, em algum momento, atitudes revolucionárias atuem de forma distorcida e atabalhoada. Enquanto o poder existir, assim ficará, quando outro grupo obtiver o poder pelas vias de fato, o desenho será novamente errado. Vamos, portanto, tomando consciência desta situação e procurando, de maneira individual, nos proteger dos abusos que tanto podem vir de um lado quanto de outro.
Beto, vc já assistiu aos documentários do Bill Still no seu canal do Youtube? São produções muito acuradas e interessantes, com pequenos grandes segredos do sistema financeiro americano e, por consequencia, mundial. Se tivers um tempinho, vá lá e confira. Será de grande valia.
Olá, Tiago,
Muito obrigado pelo comentário.
Eu ainda não assisti, mas vou fazê-lo assim que tiver um tempinho. Valeu a dica.
Abraço do Beto
Prezado Beto Veiga, se tivesse um chapéu virtual eu o tiraria para poder aplaudir os seus artigos. Não que eles sejam exímios ou completos. Mas por suscitarem a discussão dos mais diversos temas.
Abraços,
Rodrigo
Olá, Rodrigo,
Agradeço o comentário.
Abraço do Beto
Beto, gosto muito dos seus artigos, os leio sempre. Esse foi um que gostei inteiramente.
Continue com o ótimo trabalho.
Toiago
Beto, gosto muito dos seus artigos, os leio sempre. Esse foi um que gostei inteiramente.
Continue com o ótimo trabalho.
Tiago
Olá, Tiago,
Muito obrigado!
Espero poder continuar com a criatividade…rs
Abraço do Beto