As pessoas que visitam o blog há mais tempo já notaram que tenho uma preocupação com os fundamentos do sistema financeiro, e não apenas com a discussão sobre os produtos. A grande frustração é que o grupo de pessoas interessadas em descer a fundo nos problemas do sistema é muito restrito. Por conta disso, estaremos nos deparando com crises constantes, e quem precisa do dinheiro acaba pagando a conta.
No meu próximo livro eu tento fazer umas breves incursões sobre o problema, e menciono o seguinte:
“Os bancos realizam operações a cada instante, operações em que por vezes acontece de nem alguns dos próprios administradores compreenderem o que está sendo feito. Uma bobeada qualquer, e o capital do banco todo é consumido por uma perda monumental e ele simplesmente quebra. Como vimos no cenário mundial, o que acabo de descrever não é privilégio brasileiro.”
Será que a afirmação é forte? Não, de forma alguma. Vou dar a prova. Matéria do The Wall Street Journal, reproduzida no Valor de 21 de maio, com o seguinte título: “A história por trás do prejuízo bilionário do J.P. Morgan”.
Começa assim: “O diretor-presidente do J.P. Morgan Chase & Co., James Dimon, havia acabado de cometer o erro mais caro dos seus 30 anos de carreira: ele não detectou o risco em operações que começavam a causar prejuízos imensos ao banco”
O tamanho da brincadeira: “O J.P. Morgan, a maior firma financeira dos Estados Unidos, está lutando para conter o estrago, que já evaporou mais de US$ 25 bilhões em patrimônio dos acionistas”
O resumo da minha ópera é: estamos vivendo um modelo que privilegia as grandes instituições (o Brasil inclusive) e quem está preocupado com isso ou não tem como promover mudanças ou não quer fazê-lo. A conta acabará, sempre, caindo no colo do cara que precisa de recursos para melhorar a sua condição de vida, porque o dinheiro vai sempre para “sanear” as instituições. Aliás, saneamento me lembra outra coisa…
Só nos Estados Unidos, comeram mais de dois trilhões de dólares dos contribuintes para salvar os investidores dos bancos e das seguradoras que davam garantias aos produtos financeiros sofisticados. Tomara que possamos ver um horizonte mais bacana pela frente.
Muito boa a discussão, Beto Veiga. Vem em boa hora, quando vemos mudanças se processando nas relações entre governo, bancos e correntistas. Isso vai dar muito pano pra manga.
Um abraço e boa sorte com o novo livro.
Intrigante.