A onda de crédito que dobrou a participação em relação ao PIB, fomentada por uma decisão política, e apoiada pelos fornecedores de dinheiro, gerou, num primeiro momento, a alegria geral, mas agora, parece que o resultado é outro.
Não restavam dúvidas de que a estonteante classe média estava sendo “formada” pelo consumo de produtos fomentado pelo crédito. Vários foram os itens adquiridos gerando uma montanha de dívidas que começa a causar os seus impactos.
Não que estas manifestações decorram exclusivamente disso, mas vejamos que, com algo perto de 50% das famílias endividadas, é pouca a possibilidade de que elas possam “satisfazer” ainda mais as suas “necessidades” constantes de consumo. Hoje, o cara que comprou o Iphone 4S ainda está pagando pelo “S” e não começou nem a pagar pelo “4”. Assim, como fica o Iphone 5? Com o salário estourado em prestações não dá mais para comprar. E como você deve R$ 2.000 do Iphone 4S que vale hoje menos de R$ 800, se quiser começar de novo a brincadeira, estará R$ 1.200 mais pobre! Sem o Iphone 5 você é infeliz. Um verdadeiro excluído, coitado, da vida social.
Quando eu propus às pessoas que dividissem a satisfação que têm ao comprar um produto, pelo tanto de horas que vão ter que trabalhar para poder pagá-lo, queria dizer isso. A satisfação com o consumo não existe. Isso mesmo, não existe, porque ela se resolve no momento da aquisição, o que gera a “necessidade” de outra coisa. Coisa essa que você não sabe muito bem o que é, só sabe que precisa muito daquilo para ser feliz.
Vejam bem que o pior ainda está por vir, porque inventaram um tal de financiamento de imóvel de 35 anos (420 meses) com comprometimento de até 30% da renda bruta! Não é da líquida, é da bruta! Mais de 30% daquilo que entra na sua conta ou no seu bolso no fim do mês.
Resultado: insatisfação duradoura, ou alguém vai vir com aquelas soluções fáceis de arrumar um “perdão”, utilizando-se, para isso, do dinheiro dos outros.
E isso lembra alguma coisa de política, na acepção mais baixa desse termo? A mim, lembra. Aliás, mais que lembrar, faz parte dos meus pesadelos. Há tempo que falo sobre isso. Mas quem se interessa, não é? Só na hora que vierem os impostos e comerem grande parte da sua suada renda, para salvar bancos, salvar devedores, salvar candidatos e governantes, salvar todo mundo, menos você, é que a indignação irá surgir. Sinto informar que será tarde.
Essas manifestações representam bem a insatisfação de uma classe que já consumiu o que não poderia, porque sua renda era insuficiente para tal, e de outra que viu seus recursos sendo levados na forma de impostos. As classes que ganharam com a farra, agora ficam olhando e pensando em como se proteger da possível repercussão de seus atos e lucros, provavelmente, por meio de artimanhas técnicas que a população jamais conseguirá entender, mas que a conta vem, podem anotar.
Um dos melhores posts seus que eu já vi. Richard Sennett usa o termo “Folheamento a Ouro” para esses produtos que nunca precisamos mas que, de alguma forma, se tornaram vitais para o nosso convívio social. Tudo a nossa volta se tornou “Premium”, “Platinum” e etc… Estamos comprando Status em 12 parcelas. Chique pra mim é isenção de anuidade! Grande abraço!
Grande texto. Realmente é isso mesmo.
Olá, Carlos,
Muito obrigado, mesmo.
Abraço do Beto