Continuando o assunto de ontem, o Sr. Armínio Fraga, conforme a matéria do Wharton Universia afirmou que se ainda estivesse no Banco Central mandaria todas as “tropas” dele investigar este mercado de crédito imobiliário. Será que elas seriam abatidas pelo contra-ataque do setor financeiro? Não tenho dúvidas de que sim.
Neste pronunciamento do ex-presidente do Banco Central, se a matéria transcreveu de forma correta, ou vejo uma desconfiança na qualidade do crédito das instituições que comandou a regulação ou uma crítica velada ao papel predominante do principal banco público neste mercado. Se forem os dois, a coisa fica nebulosa.
Aliás, apenas a título de informação, foi no mandato de Fraga na presidência do Banco Central que foi implementada pelo Conselho Monetário Nacional a regra que autoriza as operações de derivativos de crédito no País.
Outro comentário curioso dá conta de que um ex-vice-presidente de crédito imobiliário da Caixa teria afirmado que “a exigência do Banco Central de destinar 65% dos depósitos em poupança para o crédito imobiliário não permite que as operações imobiliárias sejam alocadas fora do balanço do banco, como tantas vezes ocorreu no mercado americano. A regulação brasileira não permite esse tipo de artifício conhecido como securitização do crédito imobiliário”. Ué, mas não é a própria Caixa quem está securitizando um monte de crédito imobiliário? E mais: estes instrumentos (CRI) não estavam sendo utilizados pelos bancos para fazerem empréstimos com o dinheiro da Poupança com outras finalidades (como comentei na postagem CRI e a criatividade: como os bancos estavam usando o instrumento)?
É, há mais coisa entre o céu e a Terra do que possa imaginar a nossa vã filosofia, mas que o mercado de crédito imobiliário e de construção civil foram um grande fomentador do crescimento econômico recente, isso foram.
Mas os preços não param de subir, e quando irão parar?
“publicação do Financial Times (…) traz um estudo feito pela Cushman & Wakefield, uma das principais consultorias imobiliárias do mercado americano, segundo o qual ‘o custo do metro quadrado dos escritórios de primeira linha no Rio de Janeiro chegou a US$ 1.321 em 2010, o que representa um salto de 47% em relação ao valor do metro quadrado registrado no ano anterior, o que faz dele o metro quadrado mais caro de toda a América’. Enquanto isso, o metro quadrado no centro de Nova York ficou em US$ 1.260, informa o estudo.”
Bom, compra quem quer, não é?
Boa tarde, Beto. Em primeiro lugar gostaria de agradecê-lo pelos seus artigos.
Quais são as alternativas existentes para proteger o capital em momentos de turbulência? Por exemplo, em caso de desvalorização do Real ou estouro da bolha imobiliária.
Grato.
Humberto:
Se um banco compra CRIs utilizando recursos captados em cadernetas de poupança, ele não está alocando recursos fora do balanço. Pode até estar alocando recursos fora da finalidade original da lei que criou a caderneta, mas não fora do balanço, e nisso esse ex executivo da Caixa tem razão.
O problema do “fora do balanço” está na utilzação da emissão de títulos securitizados pelos bancos visando burlar a alocação mínima de capital exigida pelo BC, através da coobrigação indireta na liquidação do título. Isso é mais comum na estruturação de FIDCs, quando existem cláusulas que obrigam o “sponsor” (o banco) a substituir créditos caso ocorra certo nível de inadimplência acima de um nível pré-determinado. O banco, de fato, vende os créditos para o fundo, mas a obrigação de substituir os créditos ruins funciona na prática como uma coobrigação, que não deveria permitir que o risco fosse retirado do balanço, reduzindo a exigibildade de capital. O mesmo pde acontecer com outras estruturas de securitização, e foi isso que levou o sistema financeiro americano à bancarrota. Aqui o problema não é tão grave ainda. Mas pode ficar (vide caso Panamericano).
Alberto Gaidys
Grana AQUI Crédito e Consórcios
http://www.granaaqui.com.br
Humberto:
A respeito dos comentários do Armínio Fraga citados na Universia, ele não se referiu especificamente ao mercado de crédito imobiliário em particular, mas ao mercado de crédito em geral.
Nossa empresa, a Grana AQUI, atua como correspondente bancário na originação de crédito junto a pessoas físicas, inclusive imobiliário, para diversas instituições financeiras. Posso assegurar que a totalidade de nossos parceiros atua com bastante rigor na concessão de crédito, rejeitando de 75% a 90% das propostas encaminhadas em função de diversos tips de restrição. Desconheço os critériis utilizados pelas instituições que trabalham com rede própria de originação, mas parece-me que há, sim, certa ousadia no afã de conquistar participação de mercado, principalmente no mercado de crédito para pessoas jurídicas. Creio que venha daí o comentário de Fraga.
Alberto Gaidys
Grana AQUI Crédito e Consórcio
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